Dia de nêgo



As cinco e meia o sol já vai se levantando
Assim como o coitado do João
Segunda-feira é mais um dia de nêgo
Acorda cedo, tem que ir pro ganha pão

Ainda é segunda, é só o primeiro dia
a semana inteira ainda tem judiação
Despertador só desperta a sua dor
Levanta o corpo, a alma fica no colchão

Quer dormir mais ele não tem opção
Se não trabaia, de certo passa fome
Por que aqui, nessa terra dos homi,
A lei que vale mesmo é a lei do cão.

Poe a roupa que odeia
Calça sapato e meia
Segue numa van cheia
Vivendo uma vida alheia

Hora do almoço é a hora de pensar
Tempo varia como Einstein calculou:
É Meio-dia, depois de um dia se passar
Sonha com a hora de largar
E que o dia já passou

Clama à zumbi o seu protetor
Ou Alguém para lhe alforriar
escravidão ainda não se acabou
Ela apenas mudou
Salário é só pra tapear

Três dias depois, oito horas se passaram
João exausto já pode ir descansar
Bate o cartão, tira o crachá e vai pro ponto
Espera, reza, dá três conto
Para de novo se apertar
Voltando à casa o tempo volta a correr

Piscou o olho, já é hora de deitar
João não viu a noite passar
E o que queria, não deu para fazer
Mal olha pra mulher ou para sua filha
Sem energia é mesa banho e cama

João não fode e nem ama
Típico pai de família
É chegada a hora da sua redenção
Maior felicidade do dia do João
Enfim ele cai morto, e se acalma
Reencontra sua alma,
que ele deixou no colchão.


Nanan Abaeté

Comentários

  1. Meu Deus do céu, que texto maravilhoso, eu fiquei abismada de verdade. Parabéns da pra ver que você é um escritor de virtude.

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  2. Nossa mt foda, certeza que mt gente se relaciona.

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  3. Me sinto assim todos os dias de trabalho

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