Minha covardia
Eu sempre quis de mais e por isso me tornei tão covarde.
Mesmo rodeado de pessoas, sinto falta de humanidade. Então fujo, fujo para a realidade de quem sou, para onde eu possa ser minha única companhia, para onde apenas o silêncio fale comigo. Eu sonhava em sonhar com um mundo em que as pessoas eram felizes, se amavam e se respeitavam, mas nem isso me restou. Só a covardia, é tudo o que me resta. Agora sou essa pessoa considerada forte por quem almeja amar e ter fé e fraco para quem deseja ser apenas forte. E nesse jogo de quem bate só apanha, fui nocauteado contra as regras por saber jogar.
Qualquer um poderia fazer coisas magníficas com o que sou, mas eu sou só eu. Um covarde, nada além de um covarde. Minha dor era diferente porque além daquele céu azul que todos olhavam eu sabia que existia uma imensidão escura e infinita que eu me identificava. Eu já não quero saber de nada. Meu desejo é ser transferido para um lugar onde só existam sábios, só para me sentir inferior e inocente, não carregar tanta culpa nas costas. Aliás, eu sou tão covarde.
Por mais longe que eu vá, por mais distante e nas maiores alturas que a sabedoria me leve, ainda estarei aqui, preso dentro de mim e das minhas limitações. Regando a esperança que me nega o beijo mas aquece meu coração pra que um dia eu seja liberto de mim e dessa minha covardia.
Eu sempre fui tão covarde, que queria também morrer. Mas também sempre quis muito, e por isso queria ouvir o que diriam de mim após a morte, só para falarem de mim sem inveja. Até porque, ninguém tem inveja de gente morta.
Mas eu como sempre, sempre quis de mais e não queria uma morte como a de todos os outros. Esses que tomam veneno ou que disparam contra a própria cabeça. Não queria uma morte em um acidente ou ser baleado em um assalto na saída do jantar, nem mesmo por uma bala perdida.
Preservar a vida é a maneira mais atraente de se morrer. Mesmo com o aspecto abatido e físico fraco, dá uma sensação de força, de missão comprida.
Morrer simplesmente pela condenação humana e só por ela, assim como todos desejam. Aliás, somos tão covardes.
Luan César
Escrevi uma vez sobre como seria o meu velório, eu vendo como seria, assunto indigesto e não temos porque atrai-la falando dela, precisa coragem para isso. Mas uma vez numa parada de ônibus fui chamado de covarde e ali, naquele instante, percebi queva relação tinha finalmente chegado ao fim, havia terminado o amor e a cumplicidade, dali para frente jurei para mim mesmo: nunca mais terei uma amante.
ResponderExcluirAcompanhe o meu blog www.nelsonpoa.blogspot.com
Texto profundo, carregado de sentimento e auto julgamento. Um fragmento da condição humana.
ResponderExcluirMuito bom!
Texto lindo !!
ResponderExcluirGostei demais, você tem uma mente incrível.
ResponderExcluirGostei demais, você tem uma mente incrível.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGostei demais, você tem uma mente incrível.
ResponderExcluirhttp://www.recantodasletras.com.br/cartas/5692631
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