Real ou irreal

(Inspirado em "O conto do sábio chinês", de Raul Seixas)

Acordei por causa do forte cheiro de sangue que empestava o meu quarto. A luz da cozinha estava acessa e, pelas sombras que se projetavam no chão da sala, pude perceber que havia alguém a espreita. De onde viera todo aquele sangue? Quando olhei de lado, Raquel estava morta. Toda retalhada ali, no chão...A luz da cozinha apagou de repente...Pude, então, ouvir que quem estava na cozinha, agora dirigia-se em direção a mim, no quarto. A escuridão era total... Eu só podia ouvir os passos se aproximando... Meu coração disparou em batidas frenéticas... Então, acordei ressaltado. O pulo que dei da cama, também acordou Raquel. Ela me fez um carinho, me acalmou, explicou-me que eu havia tido uma pesadelo. Raquel me deu um copo d´água e me puxou novamente para a cama. Ela deitou no meu peito e começou a acarinhar-me. Eu ia relaxando... O cheiro doce de Raquel passou a ser notado pelas as minhas narinas. Raquel era simplesmente linda. Seus cabelos pretos escorriam em volumosos cachos pelos ombros... E cheiravam a flores do campo... A noite estava fria e o corpo de Raquel, quente. Aos poucos, a calma foi-se transformando em excitação. Segurei a nuca de Raquel e puxei suavemente sua cabeça do meu peito, de modo que ela inclinou a cabeça para cima, ficando com o rosto de frente para o meu. Os lábios de Raquel são carnudos... E se entreabriram para acolher o meu beijo... Beije Raquel com a força da tesão que tomava o meu corpo... Então acordei excitado. Raquel dormia placidamente do meu lado. Ela dormia tão profundamente que, mesmo dolorido de tanta excitação, preferir não acordá-la. Levantei de mansinho e, pé ante pé, fui até a cozinha tomar um copo d´água. Enquanto bebia a água, sentir um forte cheiro de gás. Raquel, que de costume toma sempre uma xícara de chá antes de ir para cama - o que lhe garante um sono profundo e tranquilo - havia esquecido o gás aberto... "Ainda bem que não acendi a luz", pensei eu enquanto   me dirigia até o fogão para desligar o gás. Sem querer, tropecei na mesa e derrubei o copo. O barulho acordou Raquel: - André é você que estar na cozinha? Por que não acende a luz? Eu senti que Raquel iria acender a luz do quarto e pensei na possibilidade da explosão, devido a todo aquele escapamento de gás, por isso, apavorado, gritei a plenos pulmões: NÃO ACENDA A LUZZZZZZZZ... Então acordei sobressaltado, Raquel parecia discutir com alguém na sala...

                                                                           Breno Rocha 
          Recebida:20/05/2012-Postado: 04/12/2012